segunda-feira, 18 de abril de 2016



1-   Dago, Nílson, Maria e Marcão    
     Após algumas boas baforadas e lembranças ao leu, o velho voltar a falar, sua conversa pausada, consistente de quem queria colocar para fora de seu intimo, algo que a muito o torturava... iniciou lembrando de bons amigos, Dago, Nílson, Maria e Marcão.... disse-me: nos meados de 88, estava rodado Ia pelas bandas do Palmeiral, tinha acabado de fazer algumas diárias como ajudante de carpinteiro na construção de uma draga escariante... um ajudante ali, naquelas paradas valia um bom dinheiro. Era uma mão de obra escassa e quando aparecia alguém o preço era bom...assim fiquei por uns quinze dias trabalhando naquela barranca de rio. Dormíamos em redes, dependuradas na própria draga, fazíamos nossas refeições ali. A alimentação era farta...recebíamos regiamente a cada final de semana. O Palmeiral era um lugarejo muito movimentado naqueles tempos..era um corre corre de caminhões e caminhonetes com matérias para construções de dragas e alimentação para o garimpo. Hoje imagino que corria muito dinheiro ali. A currutela pulsava viva e  abundante. A noite era uma só festa, com seus vários bares abertos a noite toda e a música correndo solta. Era o inicio da época da lambada e isso era tocado direto nos tocas discos dos bares. Mulheres vindas de vários lugares ali atendendo tanto como garçonete e quando as coisas davam certo, sempre pintava um romance ou outro. Sempre aconteciam algumas brigas, mais poucas, bem menos que as pessoas que não conheciam o garimpo imaginava. E assim a currutela do Palmeral ia vivendo seu dia a dia. Dia de glória e esplendor, que nunca mais foi o será visto. A era romântica do garimpo se foi....
     O dinheiro corria tão fácil por ali que certas coisas, que em outros lugares causariam o maior tumulto, ali era relevado... certo dia involuntariamente derrubei uma moto serra no rio. Aguardava a cobrança, o xingamento e a fúria do mestre de obras,.pois era isso que aconteceria em qualquer outro lugar. Mais ali não.,apenas olhou a mesma indo rio a dentro., e disse: vou passar um rádio para vir outra da cidade....aquilo me surpreendeu e foi  naquele exato momento que fiquei sabendo como era a alma e a essência do garimpo.  Porem não tinham vindo dos pagos do Rio Grande, para trabalhar de ajudante de carpinteiro, queira mais...queria ser um garimpeiro.,queria sentir em minhas mãos o brilhar e a força de um pedaço de ouro azogado....e assim subi em uma voadeira e comecei a subir o rio Madeira rumo ao garimpo do Dois Irmãos. Após alguns minutos rio acima a fofoca do garimpo apareceu. Fiquei a principio boquiaberto pelo numero grande de dragas, postos de abastecimentos, bares e mercados colocado em cima de flutuante.,mais o que mais me chamou a atenção foi um flutuante em que uma enorme águia branca feita de madeira, batia suas asas quando do movimento das águas do rio. Era o brega da Deusa., e segundo se dizia, o melhor lugar para se divertir de todo o garimpo...ali estava aquela águia, imponente, linda e chamativa...o garimpo me chamava...a vida me chamava. Outra coisa que a principio me impressionou foi o grande barulho de motores.,pois as dragas estavam em pleno funcionamento,somando-se a isso os geradores de energia dos flutuantes e as voadeiras, na sua maioria de motor 45, subindo e descendo o rio. A voadeira que me dera a carona encostou em u posto de abastecimento flutuante;.que vendia combustível e junto um pequeno armazém em que se tinha de tudo. Logo soube que pertencia aos sócios Dago e Nílson... o Nílson, um descendente de alemão de quase dois metros de alturas com uma baita tatuagem ao longo de seu braço., e o Dago um acreano que com o passar dos tempos aprendi a respeitar como um ser humano impar. Ali ninguém ficava com fome ou sem um lugar para pernoitar. Corajosamente cheguei-me ao Nílson e perguntei se ele não teria um serviço ali para mim. Falou secamente que não, que já tinha gente o suficiente para tocar suas empresas ali. Fiquei cabisbaixo e triste e fui sentar-me a beira do flutuante aguardando uma carona para procurar uma colocação em outra balsa ou flutuante. Passado uns quinze minutos o Nílson me chama e olha bem para mim e diz: olha, alemãozinho, fui com sua cara...coloca suas coisas Ia no flutuantes e pode começar a trabalhar. O Marcão te mostra o serviço. Com isso virou as costa, entrou em seu escritório e fechou a porta. Ali não se falava de salário ou de ganho.,tudo  viria á seu tempo certo. O Marcão era o gerente de tudo ali..era o gerente, o atendente da lanchonete, o caixa, o contador e tudo o mais. Mais acima de tudo era um cara com uma alma de menino., me recebeu como se fosse um familiar., e disse-me que meu trabalho ali seria colocar combustível nos tambores trazido pelas inúmeras voadeiras.,pois o posto do Dago e do Nilson era bem movimentado.,chegavam voadeiras com carotes de vinte litros, geralmente olho diesel para as dragas.,calculo que ali deveriam ter mais de 200 dragas do tipo escariantes, que era o que mais de moderno tinha naquela época,para aquele tipo de garimpagem. Quando a tarde noite chegou,após o tradicional banho com uma lata de dez litros amarradas a uma corda tirada do próprio rio, amarrei minha draga perto do motor gerador de energia...o barulho era grande, mais com o cheiro forte de óleo diesel, os carrapanas não me importunada, e isso era bom. E assim os dias foram passando e finalmente estava fazendo parte da vida de um garimpo. Já a Maria, era um morena, natural da Paraíba, que também co-gerenciava tudo ali, junto com o Marcão, mais, porém cuidava mais da parte operacional. Era quem dirigia as voadeira levando um rebocador,quando íamos buscar o combustível que chegava em caminhões na barranca do rio, para encher os tanques do posto. Era rude quando necessário, mais, tenra e amável quando tudo estava calmo. Às vezes era quem cozinhava para nós, e até hoje nunca saboreei um baião de dois iguais a que ela fazia.  E assim fui fuçando, conhecendo os segredos daquele garimpo e a vontade de trabalhar em uma draga aumentava dia a dia;porém, era difícil a draga que permite um brabo(aquele que não sabe trabalhar) a fazer parte de sua equipe. Porem, certo dia a oportunidade apareceu. O Nílson, tinha duas dragas escariantes e quando chegou o mês de dezembro ele achou por bem(como faziam a maior parte dos dragueiros), encostar ela no barranco e só voltar para a fofoca após as águas. E perguntou se eu queria ficar cuidando dela na barranca do rio.  E era essa a oportunidade que precisava, pois, sabia que quando voltasse a época da garimpagem, seria efetivado. Fui, alegre e feliz. Foram sessenta dias naquele barranco. Nesse meio tempo tive a primeira das mais de vinte malárias que tive. A febre começou leve e foi ficando mais forte e os sintomas eram visíveis. Fui ate o flutuante e pedi para o Nílson um dinheiro para ir ate Porto Velho fazer o tratamento. Ele meteu a mão no bolso e tirou um tufo de dinheiro e disse., vai se trata e volta..e era assim o velho e bom Nilson.,preocupação mínima com as coisas matérias. Para ele o garimpo além de uma forma de ganhar a vida, era uma grande família,e como chefe desta família, nada poderia faltar para seus filhos. Após recuperar me desta malária, voltei para a draga e quando a estação de garimpo voltou, em fim de abril, inicio de maio, o Nílson me deu a grane chance que precisava. Seria um dos brabos da draga escariante dele., e assim comecei a aprender a mexer com cascalho, terra, azougue e ouro. Aprendizado de suma importância.,pois no garimpo ou você aprende e vira um garimpeiro.,ou volta para a cidade e ficará ouvindo as prosas e as lendas, sempre em dúvidas se era verdade ou não. Fiquei uma temporada toda com o Nílson, na sua draga, mais existe um porém, quando você entra como brabo em uma draga, por mais que trabalhe,por mais que saiba executar suas tarefas, você sempre será um brabo., e o único caminho e sair e procurar serviço em outra draga, ai já como manso. Muito aprendi com você Nílson, Dago, Marcão e Maria e que a vida tenha sido boa para vocês. Saudades.

segunda-feira, 7 de março de 2016

                                      a volta do velho garimpeiro:

caros amigos, leitores e seguidores deste blog. tinha parado um tempo, mais após saber que mais de 17.000 visualizações este blog teve, resolvi voltar a escrever. neste meio tempo muitas coisas aconteceram, mais vou citar só as boas:
       1- parte de meu blog foi usado para uma dissertação de final de curso em uma faculdade de geografia.
       2- um grande amigo e escritor,  usou(com a devida autorização) alguns trechos deste blog em seu mais recente livro: a filha dos rios.,do escritor Ilko Minev. se ainda não leram,leiam.,pois é espetacular.
       3- obtive o segundo lugar no primeiro concurso de cronicas do Sidafisco-Ro. era uma cronica sobre o uso do dinheiro do imposto...(http://www.sindafisco.org.br/Pesquisa/ganhadores-no-1-concurso-de-cronicas-do-sindafisco/)..neste link tem o detalhes.
   enfim, isso tudo me animou a voltar a escrever.
              Finalmente começo a escrever o meu livro, lembranças de um velho garimpeiro., e é trecho dele que vou postar aqui. algumas historias devem se repetir, mais acho que sera legal. abraços a todos e boa leitura.

                           

1-   CONVERSA EM FRENTE AO RIO MADEIRA
     Tarde quente, como de costume e a praça Madeira-Mamoré como toda a tarde estava com bom movimento de pessoas.  Algumas passeando, outras conhecendo a praça e boa parte curtindo a brisa que vem do rio. Em um dos bancos estava sentado um velho, fumando seu cachimbo e olhando fixamente para o rio. Mais não era como outros velhos que ali freqüentava, que tinham seus semblantes tristes, seu olhar saudoso e notoriamente uma depressão visível. Este velho era diferente....via-se com nitidez um leve sorriso em seus lábios e um olhar encantador sobre as águas do rio, olhar que contrastava com o sol que brilhava aquelas turbulentas águas. Pelo modo que baforava seu cachimbo conclui que o mesmo era um companheiro inseparável, confidente para ser mais preciso. Aquele olhar sorridente e o modo com que olhava para o lado esquerdo do rio me deixaram curioso e por que não dizer inquietante: qual o segredo ou então qual as lembranças que passavam pela cabeça deste ancião...pelo leve sorriso lembranças felizes...pelo longo olhar lembranças que já se fazem saudosas...precisava decifrá-lo...se conseguisse isso provavelmente teria uma viagem inesquecível á um passado aventureiro e é o que vou fazer.
     Aproximei-me e puxei conversa... o velho era receptível e facilmente iniciamos um dialogo...bateu o fornilho de seu cachimbo contra a mureta do banco, e eu como conhecedor deste habito notei que seu cachimbo era de boa qualidade, provavelmente um amphora, de fabricação holandesa, e feita com madeiras nobre., e ainda dava para sentir o aroma do fumo que acabara de fumar, e que pelo cheiro e leveza, deduzo que era um yenidje de origem turca, fumo mediterrâneo de aroma bem característico, isso me fazia concluir que o velho era dotado de um bom nível cultural e conhecimentos comospolitanos, o que fazia com que minha curiosidade só aumentasse. Iniciamos nosso dialogo com as apresentações formais, apresentou-se dizendo apenas ser um velho garimpeiro, saudoso dos tempos românticos dos garimpos do norte do Brasil e que vinha ali sempre que possível, olhar para as turbulentas águas do Madeira e recordar daquele grande e valioso tesouro que guardava consigo: as lembranças de um velho garimpeiro.
     Bem jovem, dizem que a palavra saudade não existe...pode ate não existir a palavra, mais te garanto que a saudade existe, e é como uma faca, que fica tentando furar sua pele. Olha para este rio...corre, lépido e sem parar, como se em seu passado, não tivesse deixado, lagrimas,sangue e saudades para trás. Se as barrancas deste rio pudesse falar, contariam coisas inacreditáveis. Aqui nos alegramos, choramos, vivemos e morremos, tudo ao mesmo tempo. Creio que o que a psicologia chama de bipolaridade é o que o garimpeiro após alguns meses aqui no Madeirão sente. Vamos da alegria á tristeza...do sorriso ao choro..da aflição á tranqüilidade, tudo isso num tempo recorde. Choramos de saudades de um familiar, de um filho, de um amigo..e ai de repente uma boa despencada, e pronto o ouro em nossas mãos nos transem um sorriso, uma êxtase, uma adrenalina que faz que tudo seja esquecido. O ouro, o louco ouro que fez deste rio e da vida de muitos um rebuliço inesquecível.
     Neste momento o velho enche um novo fornilho, acende seu cachimbo e tragando-o se cala. Pela experiência sabia que o melhor era deixá-lo viajar no devaneio de seus pensamentos. Deixar a saudade, as lembranças a vida que um dia foi bela e que agora esta se esvairando..... deixar a alma subir e descer o Madeirão....deixar suas idéias viajar por vilas, currutelas, dragas, balsas, flutuantes e bregas, que fazem de uma fofoca garimpeira,um lugar únicio, impar....
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      na próxima postagem.,o velho  chega finalmente ao garimpo....até.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

LENDAS E VERDADES.....


Existe muitas histórias que se houve em garimpos., que na realidade fica dificil de saber se foi verdade ou mais uma das inumeras lendas..
assim que cheguei no Rio Madeira na decáda de 80., se falava muito de um acidente que havia acontecido no garimpo dos Periquitos., na epóca ficava em Vila Nova.,hoje Nova Mamoré.,em Rondônia..diz que em uma fofoca de balsa de mergulho(varias balsas.,uma amarrada na outra).,quando varios garimpeiros estavam mergulhando e enviando material para cima.,houve um deslizamento de um barranco...e dezesseis garimpeiros.,dentre eles uma mulher.,morreram com toneladas de terra sobre seus corpos....foi rápido.,sem tempo de nada...e seus colegas que tinha ficado em cima da balsa dando apoio., só puderam cortar e liberar as mangueiras que mandavam oxigenio....os corpos ficaram lá para o todo e sempre....
Isso é plauzivel.,pois varias foram as vezes que presenciei colegas que morreram em balsas de mergulho...um descuido pode ser fatal...estando lá em baixo., fica-se succionando o material atraves de um tubo(maraca)., e com isso cava-se burracos...e quando menos se espera o que ficou acima desbarranca..ai ja era...um mergulhador trabalha em média duas horas direto embaixo da agua..o ar é mandado por um tubo.,acoplado em cima na balsa em um compreensor de oxigenio..temos varios códigos de sinais...por exemplo se precisamos de um socorro urgente(ser puxado)., é só dar um puxão forte na mangueira...se quisermos saber se ta indo material., damos dois puxões e quem esta em cima dando apoio responde...se tiver bom dois puxões., se tiver ruim um.....e ai vai..sao varios códigos passado de garimpeiro para garimpeiro....para nós mantermos lá em baixo., usa-se um cinto de chumbo preso na cintura de mais ou menos 50 kilos...só assim a pressão da agua não nos manda de novo para a superficie...quando queremos subir., amarramos o cinto na corda de apoio e o colega puxa o cinto e a gente submerge...dificil a semana no Rio Madeira dos tempos dourados do garimpo em que não morria um ou dois colegas por queda de barreiras....
Nos seus bons tempos o rio Madeira chegava a dar em média de 1 a dois kilos de ouro a cada 24 horas de trabalho....foi sem duvida a maior mina de ouro do Brasil...não tinha a midia como era o caso de Serra Pelada.,mais tinha muito minerio....
E por falar em Serra Pelada., ali tambem tem uma lenda.,que se mistura com a realidade...era apenas uma fazenda.....fazenda serra pelada.,imaginava-se que podia ter minerio.,pois toda a area era rica.,mais emfim apenas uma fazenda....conta-se uma das inumeras lendas de como surgiu o garimpo de Serra Pelada., que dois peões foram mandados cavar alguns buracos para fazer um cerca para separar os pastos....cavaram e de repende bateram em algo duro....um ainda reclamou...poxa.,mais uma pedra pra atrapalhar..mais emfim a cerca tinha que ser ali., e foram tirar a pedra..era uma pedra diferente.,amarelada....uns dos peões que ja tinha trabalhado em garimpo falou que podia ser ouro...de pronto forma mostrar pro patrão..o padrão.,liso igual a candiru.,disse que não era nada.,apenas uma pedra diferente.,apanhou-a e guardou...lógico que ele sabia que era ouro....os peõs terminaram a empreitada e forma embora...naquela epóca a cidade mais perto era Marabá., e ali gastando seus dinheiros nos bares da cidade o que achou a pedra comentou com o pessoal...e ai pronto..a fofoca estava pronta,pois Marabá era uma cidade chave para garimpeiros que extraiam minerio no Pará...e num piscar de olhos Serra Pelada foi invadida de tal forma que só restou ao dono da fazenda pedir ajuda a policia federal e vender a area para a CEF.....e por falar em Serra Pelada.,mais duas lendas ou verdades....conta-se que um garimpeiro rodad0(sem trabalho)., chegou em um dos barrancos do garimpo e pergunto pro dono se não tinha algum reco(relavagem de cascalho) para ele fazer....o dono do barranco malcriado que só.,pegou um montinho de terra e mandou na canela do sujeito e disse:lava isso ai e ve se não da mais trabalho.,bando de rodado....e la foi o indigitado lavar aquela terra...e dentro duas pepitas de ouro, que pesada passavam de meio quilo.....é a
sorte.,amiga..madrasta dos necessitados no garimpos....
outra que se conta., é de um garimpeiro., que deu uma boa bamburrada e tinha uma namorada no Rio de Janeiro....pegou mais de tres quilos de ouro em um barranco e resolveu ir visitar a amiga...chegou em Marabá., e o ultimo voô para Brasilia.,aonde podia se embacar para o RJ.,ja tinha saido...só na outra semana....não se fez de rogado...foi na agencia da empresa aerea.,pagou em ouro o aluguel de uma aeronave que veio especialmente buscar ele...foi ao Rio de Janeiro....mando a aeronave alugada esperar..namorou a vontade e no outro dia voltou para Marabá.....
diz-se que hoje esta na fila do sopão dos necessitados em Curionópolis...mais não sei se é lenda ou realidade.....
nos próximos dias, vou escrever mais sobre lendas e realidades.....escrevendo...relembrando tempos que não volta mais...em que era feliz e não sabia.
dedico esta história de hoje aos meus amigos que estão comigo em um outro garimpo: o forum do Sportingbet...Jóa;;Bing..Wathpp...Serandre..Elton.,Parente.,Beto,Mendonça,Xgabriel,Vaz,Pinamusic,Leofauth e Beth,nossa conselheira de toda a hora....e os demais.,que se for para por o nome de todos,vai mais uma pagina..um abraço e obrigado por dividir bons e maus momentos com agente.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O NEGÃO DA ANTA......


Juína.,no estado do Mato Grosso., foi palco de uma grande corrida de garimpeiros na decáda de 1980...lá tinha varios garimpos de diamantes..o diamante de Juína.,não era em sua totalidade para ser usado em joías.,lá tinha mais o diamante industrial.,muito usado pelas industrias aeronauticas e outras....o que perdia em qualidade o garimpo de Juína.,ganhava em produtividade.
Ali tinhas vários garimpos.,mais dois se destacaram dos demais: o garimpo do 180 e o do arroz.
O trabalho nestes garimpos eram bem cansativos.,pois dependiam muito do esforço fisico.,quem nem sempre eram bem compensados.
Trabalhavamos por em média 15 dias.,ai pegavamos nossas comissões e iamos para "festar" na cidade....em Juína na epóca tinha muitos hoteis aonde ficavam os compradores de diamantes.
Mais uma das figuras mais "emblematica" que conheci foi o negão da anta...esse era seu nome...assim ele era conhecido...o negão da anta era um calejado e experiente garimpeiro.,porém não parava em lugar nenhum...vivia mais de reco(quando se lava um material que ja foi usado a procura de alguma sobra de garimpo)_..pois bem,o negão da anta sempre vivia rodado em Juína.,quase sempre em alto estado de embriagues fazendo ponto na rodoviária de Juína....gostava de uma mulher.,porém esta nem bola dava para ele.,devido ao seu pessímo estado,tanto financeiro como fisíco...certa vez o negão pediu a um conhecido comprador de diamante que lhe fornece vivéres.,pois ia tentar a sorte no garimpo do arroz.....era comum na epóca os compradores de diamantes fornecerem os vivéres necessários bem como o material para garimpagem.,em troca de 50./. do que fosse achado...se não achasse nada o prejuizo seria dos dois...neste dia outros compradores negaram dar a compra para o negão.,pois ja tinha perdido dinheiro com ele...porém teve um que arriscou..e la foi o negão contente e feliz atras da sorte..
no segundo dia de "reco" o negão achou uma pedra de diamante..e não era uma pedra qualquer...foi considerada umas das mais grandes e valiosas que ja foram achadas em Juína...diz o negão que quase desmaiou quando viu a "bitela"...largou tudo e voltou a Juína e foi procurar o comprador que lhe havia financiado a empreita..o comprador era uma pessoa honesta e integra., e mandou que o diamante fosse avaliado em Bruxelas.,na bolsa de diamante(fotos por fax..)..veio a avaliação e autorização de compra da mesma...e ai surgiu um pequeno problema!!!.,o negão da anta não tinha documento!!!.,só sabia do nome da cidade em que nascera na Bahia..e como dinheiro é dinheiro.,com tres dias o negão ja tava documentado e com conta aberta em banco e etc..tal....com a parte que lhe coube.,o negão comprou um hotel na cidade(hotel este que ja tinha sido enxotado várias vezes por não ter dinheiro para pagar...)...comprou um carro santana(era o top da epóca)...e é lógico!!!casou com a amada que de repente descobriu que o amor da vida dela era o negão da anta!!!!!..o sócio na pedra(comprador)...arrumou um bom administrador para o restante do dinheiro que foi aplicado em gado....á partir daquele dia o negão da anta.,passou a ser o Sr. Negão da Anta!!!!!
ai entra uma velha máxima do garimpo...."a sorte não escolhe pessoas....vem para as pessoas"..naquele dia muitos negaram ajudar o negão na compra dos vivéres..um acreditou...e este a sorte veio....

quinta-feira, 18 de março de 2010

O GARIMPO DE ESMERALDAS......



Em 1990.,conheci um dos mais importantes garimpos do Brasil...foi o garimpo de esmeraldas de Santa Terezinha de Goiais.,no interior do estado de Goiais...uma cidade bem interessante,hospitaleira.,aonde na epóca a economia gerava em torno de muitas minas de esmeralda que se espalhava pela cidade.

Ali se vivia 24 horas o ambiente de compra, venda e permutas em torno da pedra...tinha um lugar aonde se reunia os compradores e a conversa ali era só..pedras..quilates..mina e etc...vinha periodicamente pessoas da India(aonde se compra muita esmeralda)..,para conhecer o lugar e quem sabe,levar algo para lá não é???

Porém o dia a dia do garimpeiro de esmeralda não era facil...geralmente ele trabalhava para um patrão que era o dono das minas...andando pela cidade voce observava varios poços(iguais os usados para agua),,e ali se descia até 250 metros atraves de elevadores rusticos e lá era desenvolvido o trabalho..o ar era enviado por mangueiras que era gerado por compressor de ar...trabalhava-se a semana toda e no final de semana o patrão pagava o valor do trabalho semanal e dava um carrinho de xisto(que era o material aonde geralmente fica a esmeralda).,para que o garimpeiro lavasse para ele e se tivesse sorte encontra-se uma boa pedra....muitos ganharam boas quantias em dinheiros com as pedras encontradas nestes xistos....no sabado era normal ver varios garimpeiros nas "piscinas", aonde era lavado o xisto., lavando seu quinhão na esperança de uma boa pedra....e em roda desses garimpeiros os compradores.,avídos tambem por um bom lucro...e eram esses.,os compradores que sempre ficavam com o lucro maior.,pois sabiam da cotação da pedra e tambem ficavam sabendo se tinha "Indianos" na cidade...Indiano era certesa de um bom lucro.

Porém os garimpeiros sempre achavam alguma coisa.,pois trabalhando la embaixo.,sabiam aonde podiam se dar melhor levando para si o melhor xisto...

Porém meus dias de garimpo de esmeralda acabaram logo na minha chegada a Santa Terezinha de Goiais....estava perambulando pela cidade.,procurando uma vaga.,quando um "patrão" perguntou se eu queria trabalhar...disse que sim., e ele me falou que estava precisando de um trabalhador....fiquei alegre..feliz.,com a certesa de logo.,logo estar com o meu carrinho de xisto para lavar...fui feliz para o hotel aonde estava hospedado.,na certesa de outro dia ir trabalhar...porém quando soube o por que dessa vaga "saltei" longe e vazei!"!!!!!...o ultimo garimpeiro que trabalhou naquele poço.,acabava de ser enterrado no cemiterio local...motivo: estava trabalhando nas minas quando um barranco desbarrancou em cima dele...não deu tempo de sair...foi centenas de kilos de terra em cima dele...demoraram mais de um dia para tira-lo de lá...isso o "patrão" não me contou...acabava ali,prematuramente a minha hipotética carreira de garimpeiro de esmeralda......

quinta-feira, 11 de março de 2010

O AVIÃO...ALMA DE UM GARIMPO


Nos anos em que passei nos garimpos.,vi varias cenas de um dia á dia diferente de qualquer lugar..algo que nos chama á atençaõ é a necessidade que tem um garimpo de aviões e de pilotos....sem eles,o garimpo esta fadado ao fracasso.

Em cada pouso e cada decolagem é uma nova esperança que brota e a certeza que apesar das dificuldades á vida continua.

Normalmente os aviões que fazem as rotas de garimpos.,são preparados para levar o máximo que se pode de carga....tira-se os bancos, deixando apenas o do piloto.,pois o resto deve ser ocupado com carga...ali se leva de tudo...oléo combustível, gasolina, compra.,bujoões de gás., carne e de tudo o que se pode pensar...é dificil um avião de pequeno porte que pouse com menos de 400 kilos., e ao decolar não leva de 4 a 5 pessoas.,mais carotes para combustivel.,os bujoões vazios para troca e ouro...o ouro que leva para vender na cidade.

o preço de uma passagem na volta varia de garimpo para garimpo....por exemplo de São Benedito no Pará até Alta Floresta no Mato Grosso, custava na decáda de 80(grande decáda do boom dos garimpos).,custavam em média 11 gramas de ouro...de Puerto América na Bolívia até Riberalta custava em média 7 a 8 gramas de ouro.

Muitas vezes o avião é o fio de esperança entre á vida e a morte...várias vezes de eu fazer voô nos garimpos da amazônia e no mesmo avião outros garimpeiros.uns com malária.,outros acidentados e uma vez fiz um voô com um rapaz que tinha sido picado por uma cobra...foi delirando á viagem toda(aprx. 45 minutos)...

e as pistas de pouso eram outra história á parte..na maioria das vezes apenas picadas que cabia apenas o avião..os comandantes deste aviões eram verdadeiros herois..sem dúvida.,os melhores pilotos privados do Brasil estavam nos garimpos...Há perícia era importante nestes rincões...

Homenageio aqui com esta história estes herois amazônicos....em que 300 metros ja era um aeroporto e muitas vezes o rio era a salvação...

terça-feira, 9 de março de 2010

cada figura!!!!!!


o dia á dia no garimpo é corrido...acorda-se cedo e ai se vai até horas da noite..o objetivo é um só:fazer a despescada maior que puder..e é nesses momentos que conhecemos figuras exóticas e engraçadas.
a Maria.,por exemplo, era uma paraibana, garimpeira de primeirissima qualidade..braba que só vendo..por muito tempo ela foi a gerente das dragas e flutuantes do Dago e do Nílson...o Dago e o Nílson, ninguem tinha medo..mais quando o assunto era coma Maria...Deus nos acuda!!! era um tropel...se alguem gritasse ela conseguia gritar mais alto...se alguem saisse no tapa.,lá esta a paraíba no meio!!!!quando se tinha que ir buscar combustivel na barranca do rio com um flutuante, era ela que pilotava a voadeira..macho ali era coadjuvante..mais em compensação (sempre tem a compensação)..era uma mãezona para todos...quando ia para a cozinha e fazia um baião de dois., não sobrava nada na panela..cozinheira de mão cheia....por onde andará tú,Maria???..o garimpo praticamente acabou,mais as boas lembranças dos velhos tempos este não acaba.
Outra figura que ficou na lembrança., foi o cearazinho....era um garimpeiro mirrado,magrinho...porém brabo que só vendo..de certa feita.,tinha uma grande fofoca de dragas na aréa do machadinho.,ouro bom, todos ganhando dinheiro..e o fervo era grande...e ai aconteceu a trágedia...tinha dragueiros que para entrar no meio da fofoca(amontoados de dragas em uma area aonde ta dando ouro)...costumava cortar a poita de outra draga(pedra de aproximadamente 500 kilos colocadas como se fosse uma ancora para segurar a draga na correnteza)..e certa feita um grupo em uma draga foi e cortaram a poita de uma draga..e por azar era a draga do cearazinho....e ai foi ela rio Madeira abaixo.,pois a correnteza ali era super forte...luta vai, luta vem conseguiram levar a draga para a barranca do rio e amarrar com uma corta em uma arvore..e o que cortou colocou a dela no lugar da draga do cearazinho....depois que o cearazinho e seu pessoal consegui controlar a draga deles., o mesmo pegou uma voadeira., foi lá na draga que fez o estrago...subiu quieto..olhou sacou de uma pistola e matou os tres tripulantes que estavam a bordo e foram pegos de surpresa...voltou para a sua voadeira.,foi em uma flutuante aonde estavam os outros tres integrantes da draga e ai ja viu...mais tres mortos...e picou fumo no mundo...nem sinal mais do cearazinho...
Passara-se aproximadamente uns tres anos e lá estou eu no garimpo do Bonfim no Pará,quando dou de cara com o cearazinho....ele olhou para mim e perguntou: ta me conhecendo???... eu falei: sim.....e ai perguntou: lembra lá do machado????...pensei...analisei e respondi: machado???nunca tive no machado.....e graças a este pequeno subterfúgio hoje estou aqui contando esta história...pois creio que se falasse que lembrava seria mais uma cruz no coldre do revolver do cearazinho.....e assim ia o garimpo no seu dia á dia... o esperto sobrevive...o manso fica..mais o afoite e "tobó"..esse com certeza morre.....
na próxima história.,contarei de mais personagens inesqueciveis desse enredo real chamado garimpo.
um abraço.